Resumo: Artigo 36234
José Arthur Rios e o SESP: ciências sociais e educação sanitária na Saúde Pública (1950-1960). (14,35,36,50,51,70)
José Cardoso, Casa de Oswaldo Cruz, Brazil.
Apresentação: Wednesday, May 29, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 212 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 33 - Chair: Marta de Almeida
Abstract.
A atuação do sociólogo Jose Arthur Rios no SESP marcou a introdução das ciências sociais na saúde pública dos anos de 1950. Após sua atuação como coordenador da Campanha Nacional de Educação Rural (CNER), em 1951, assumiu a chefia da Seção de Pesquisas Sociais do SESP, reunindo em sua equipe o cientista social Carlos Medina e o antropólogo Luiz Fernando Fontenelle. Essa seção foi responsável pela realização de pesquisas que subsidiaram as atividades de educação sanitária, sobretudo no que se refere à organização de comunidades. Entre essas atividades está a realização de inquéritos sobre comunidades, como o que foi realizado em Aimorés (MG), por Fontenelle, descrevendo traços da cultura local e apontando caminhos para a intervenção do SESP. Através do trabalho da seção de Pesquisas Sociais, a seção de Educação Sanitária reformulou sua estratégia de atuação e seu material educativo, passando a assumir o discurso das ciências sociais como forma de legitimação do seu trabalho. Sob essa perspectiva, o SESP promoveu uma série de eventos, entre palestras e seminários, para promover a assimilação da educação sanitária entre os profissionais de saúde pública. O discurso sobre o que seria um moderno programa de saúde pública, carregava a noção do trabalho em equipe, integrando médicos, enfermeiras, guardas e visitadoras sanitárias, que, a partir dos conhecimentos produzidos pela pesquisa social, seriam capazes de realizar a organização de comunidades. Esse modelo de gestão da saúde pública foi discutido no primeiro Seminário Nacional de Educação Sanitária, realizado em 1956, em Juazeiro BA. Este evento contou com a participação de representantes das seções e dos programas regionais, discutindo caminhos para a introdução de atividades de educação sanitária nas principais áreas de atuação do SESP. A metodologia de trabalho da educação sanitária, sob a influência dos pressupostos das ciências sociais, foi descrita no livro A Educação dos Grupos, de José Arthur Rios, publicado pelo Serviço Nacional de Educação Sanitária. Através das dinâmicas de grupo e das técnicas de organização de comunidades, o texto define as etapas do trabalho de educação nas comunidades, visando a consolidação dos serviços de saúde pública. O livro foi utilizado, sobretudo, na formação de auxiliares de saúde pública e nos cursos de serviço social, como descrito em entrevista, pelo autor. Nessa análise, foram consultados como fonte: o periódico Boletim do SESP, publicados mensalmente durantes os anos de 1950, identificando suas características gráficas, seu perfil, público alvo, personagens e principais temas abordados; entrevistas realizadas com o prof. José Arthur Rios, entre setembro e novembro de 2006, por Nísia Trindade Lima, Marcos Chor Maio e José Leandro Cardoso; o livro A educação dos grupos e demais textos do autor publicados em revistas especializadas, folhetos e no Boletim do SESP. A partir de 1953, o Boletim do SESP teve sua redação assumida pela Seção de Educação Sanitária. Sob a sua coordenação, o Sespinho nome dado ao Boletim do SESP pelos funcionários do SESP assumiu um formato mais dinâmico, com páginas ilustradas e divididas em seções. O boletim imprimia e reforçava o discurso da saúde pública moderna, baseada na pesquisa social e na educação sanitária. No editorial O SESP e as ciências sociais se lê: É realmente um problema fazer com que o povo construa privadas, aceite a vacinação ou coma alimentos diferentes. Eis quando a colaboração do cientista social é inestimável. Com um perfeito conhecimento da cultura do povo, de suas crenças, dos valores que preza e do seu modo de pensar, ele pode ajudar o serviço de saúde a desenvolver um melhor trabalho visando modificar o modo de vida. Este foi um dos textos de José Arthur Rios no Boletim do SESP, reunidos em coletânea publicada posteriormente. Na sua trajetória no SESP, Rios marcou o perfil das atividades de educação sanitária e a formação de uma geração de agentes de saúde pública, voltados para a atuação social. Foi um dos principais responsáveis pelo processo de introdução das ciências sociais no SESP, que definiu as estratégias de intervenção dos seus programas de saúde pública nos municípios rurais do país, nos anos de 1950. A experiência do SESP em associar educação sanitária e pesquisas sociais influenciou tanto o treinamento de pessoal do SESP, como serviu de base para a reformulação dos currículos de cursos de saúde pública nas universidades brasileiras, como foi o caso da USP, em 1955.